29.3.06

Bromeliando

Bromélia Maria é uma grande amiga, inventiva que só ela, vive ensimesmada matutando coisas... Ciscos, cuspes de pássaros, Adamastores... Ela mora em uma casa de minhoca com sua gata Brô, bichana mal humorada que só ela, cheia de teimosias, coisa bem gatal!

Vira e mexe trocamos receitas com Bromélia, a danada cozinha loucamente bem e bem loucamente, faz comidinhas pra alma, cheias de sutilezas, de poesia... comidinhas alegres, divertidas!

Quem quiser saber mais sobre a cozinha de Bromélia acesse: http://www.ocaixote.com.br/ e aproveite para escafrunchar outras delicadezas! Segue uma de suas receitas:

Shitakada da Bromélia

Quando ainda infante, presenteou-me minha Vó Nora com o livro A Cidades dos Anõezinhos.Todo belo e formoso em ilustrações, prendia minha atenção pelos pequenos objetos – bule, chaleira, botinha – que se mostravam enormes locais de habitação e lazer dos pequenos seres. Nem sei dizer se lá havia algum desenho de cogumelo. Mas quando vejo um, logo me remeto ao passado, folheando, com olhos infantis, o livrinho. Então penso que, sem saber de sua própria existência no mundo, desde pequena sentia atração por cogumelos, essas coisa fofa, um maior barato!...que me foi dado a conhecer pelo livro recebido com dedicação e tudo o mais, sem a certeza de que nele havia um.

Mas se a minha cachola é povoada por cogumelos de estética ímpar, a realidade é bem diversa. Separados em comestíveis e não-comestíveis, afunila-se ainda mais a percepção que sobre eles temos. Os primeiros, "comíveis", surgem com peso relevante, mas transfigurados. Sim! A estética cogumelal que encontramos em pratos elaborados perdem, normalmente, sua essência original, primária, grudada em pés de frondosas árvores, espalhados em florestas, habitadas ou não por fadinhas e fadinhos, para virarem fatias, lâminas, metades, cubinhos, picadinhos... uma pena! E, quando presos em vidros, em conservas, até certa repulsa podem causar. Mais recentemente, os "comíveis" surgem com peso relevante nos grandes centros urbanos, em prateleiras de supermercados, em bandejinhas de isopor, e entre eles se destacam os shimejis e os shitakes.

Do shimeji não culinariei, visto já ter sobre ele receitado em edições passadas do Caixote. É para o shitake – de cultivo milenar no Japão, e, no Brasil, mais recente – que dedicarei a receita.

Pegar uma bandeja de shitake, admirando a perfeição da mãe natureza. Como filha/o não pródiga/o, tire a parte mais tronchuda (o cabo do guarda-chuva), e corte os chapeuzinhos em fatias, colocando-as num escorredor. Jogue umas gotas de limão.
Em seguida, ferva água e escalde os cogumelos.

Após, derreta manteiga numa frigideira e ponha as fatias para refogar. Jogue um tanto de molho de soja, um tantinho de sal, umas três raladas de noz-moscada, um tanto de vinho branco. Se sua percepção e possibilidades disserem para você jogar mais alguma coisa, não vacile.

Depois de refogado você pode servir com rúcula, nozes picadas e fatias de pêra (ou figo fresco). Se tais ingredientes não forem de seu uso comum, coloque o shitake sobre fatias de pão de fôrma – pão preto, de centeio, meio grão, grão inteiro, e cubra com queijo em fatias bem finas. Leve ao forno e sirva.

Ai que saudades que tenho, da aurora da minha vida... E se você tiver oportunidade, não deixe de ler A Cidade dos Anõezinhos!

Postscriptum: Conheci um professora que resolveu cultivar shitake. Os maiores, feito bolachas, ela preparava como hambúrguer. Passava na manteiga e botava no meio do pão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Falando em fadas fadadas a transformar, comecei a latir após a excelente rabada aqui na padaria ao lado.

Anônimo disse...

Dr.Victor Caudas,
Melhor seria comer da shitacada e virar árvore. É mais romântico.