17.2.07

Ano do Porco

Como bons porquinhos, nascidos em 1971, aproveitamos o dia hoje para uma passada na Liberdade e comemorar a entrada do ano do porco. Como na nossa cabeça o Bairro da Liberdade está diretamente ligado à comida, para não perder a viagem resolvemos conferir uma dica quente dos amigos Renato e Alexander. Fomos conhecer o honestíssimo Rog He restaurante chinês especializado em massas.

Adoramos!!! Um restaurante pequeno, ultra limpo, ao que parece novinho e que tem como principal atração uma apresentação ao vivo da “arte de macarrão”... É o seguinte, uma das cozinhas, o pastifício, fica atrás de um vidro e o chef, um chinês grandão, faz malabarismos atrás do vidro com massa de macarrão, é incrível, uma sucessão de estica e puxa que no final acaba se transformando em macarrão!!! Exatamente, o cara faz os fios de macarrão na mão, esticando e enrolando a massa inúmeras vezes, uma loucura ficar assistindo...

Mas o melhor é quando a massa que você viu sendo esticada chega à mesa fumegando com legumes, carne, frutos do mar... uma cumbuca enorme... e a graça continua, a massa vem com um pegador de macarrão, uma concha para o caldo e uma tesoura pra cortar o macarrão que é compridão, achei o máximo cortar macarrão com tesoura, divertidíssimo!!!

A diversão continua no preço, uma porção com 15 guiozas de carne de porco (eles têm opção de guioza frito, assado e cozido, de porco, frutos do mar ou vegetais) custa R$ 12,00, a cumbuca de massa com frutos do mar, que serve tranquilamente três pessoas, custa R$ 16,00. Nossa conta, incluindo bebidas ficou em R$ 34,00 e sobrou muita comida, que levamos pra casa, pra uma boquinha noturna, pois não somos bobos nem nada!!!

Feliz Ano Novo!!!

Vá lá:
Restaurante Rong He Massa Chinesa
Rua da Glória, 622-A - Liberdade

13.2.07

Tambor

Quem, como nós, ainda lamenta o fechamento do Tambor, restaurante do Chef Carlos Siffert (um de nossos restaurantes prediletos em São Paulo e, sem sombra de dúvidas, o melhor custo/benefício da categoria), tem agora a opção de matar a saudade na rotisseria que leva o mesmo nome, e que funciona na Rua Simão Alvares, em Pinheiros.

A charmosa rotisseria, aberta em sociedade com o publicitário Oscar de Oliveira Jr. e o jornalista Ivan Masetti, serve alguns pratos para almoço em um ambiente intimista, com 12 lugares. Verdadeiro oásis nessa cidade louca... um cantinho sossegado, onde é possível comer e prosear com Oscar, um botafoguense super bom papo!

Quando vamos, atacamos de entrada a salada de verdes com berinjela e tomates assados, uma delícia, servida em uma porção farta que dá para dividir, deixando claro para os nostálgicos que a honestidade continua a mesma de sempre!!! Não dá pra fugir do molho de tomates com laranja, que acompanha as diversas massas frescas da casa, e fica especialmente bom com o ravioli de mussarela de búfala (tal qual era servido no Tambor).

De sobremesa, além dos doces como o crostata de damasco e o brownie, o melhor sorvete que experimentamos nos últimos tempos, de pêra, tão perfeito que virou idéia fixa, dá vontade de passar por lá todo dia só para tomar o tal do sorvete.

E o melhor de tudo, é uma rotisseria, ou seja, dá pra levar tudo pra casa, almoçamos pensando no que vamos levar pro jantar!!!

Rua Simão Álvares, 1018 - Vila Madalena
Fone: 3097-8158 - http://www.tamborcozinha.com.br
De terça a sábado, das 10h às 19h; domingo, das 10h às 15h

9.2.07

Comida de resguardo



Nos tempos da minha avó lá “no” Goiás resguardo era coisa séria, tinha para mais de um milhão de precauções a serem tomadas pela mulher parida, como por exemplo, não lavar o cabelo, não deixar os pés descobertos... Entre mitos e verdades, a mulher parida passava por uma série de cuidados para ajudar o organismo a voltar ao seu funcionamento perfeito depois do parto e também para não prejudicar o leite do rebento.

Se por um lado o resguardo significava uma série de senões na vida da mulher, por outro era também um dos raros momentos de descanso, uma pausa na dureza do dia a dia. Em especial quando pensamos no cotidiano de uma mulher na fazenda, matando porco, fazendo lingüiça, queijo, pamonha, quitandas, limpando a casa, acendendo o fogão à lenha, quarando a roupa, ariando as panelas, cuidando dos filhos, ajudando na roça... vixe, que já tô morta de canseira só de pensar...

Grande parte destes cuidados referia-se justamente à alimentação, mas quem pensa que sob este aspecto a mulher parida passava mal e ficava restrita a uns caldos ralos e sem gosto, se enganou redondamente... Todo um repertório de comidinhas era feito especialmente para elas, para restaurar as forças, aumentar o leite e principalmente confortar!

Uma destas comidinhas eu gosto especialmente! Lá “no” Goiás chamamos de Galinha de Parida* e é feita mais ou menos assim:

Refogue em pouquíssimo óleo, cebola, sal e alho, uma galinha caipira inteira**, sem pele e cortada em pedaços. À medida que a carne for grudando na panela junte um pouquinho (coisa de um copo americano) de água, mexa bem desgrudando a carne da panela e espere novamente o líquido secar e a carne grudar e assim vá repetindo a operação até que a galinha fique bronzeada – minha avó chamava este processo de pingar água.

Quando chegar à cor bronze, junte um fundo de ave até cobrir a galinha (aproximadamente dois litros) e deixe cozinhar em fogo baixo até que as carnes comecem a se soltar dos ossos - tem gente que usa a panela de pressão, porque galinha, em geral, é muito mais dura que frango... dureza que é compensada pelo sabor... Eu, como boa goiana, prefiro deixar cozinhar lentamente em panela comum tampada.

Quando a galinha estiver cozida, retire os ossos e deixe as carnes ferverem mais um pouco no caldo, se a quantidade de caldo estiver pouca junte mais fundo. A idéia é ficar um caldo abundante. Quando estiver pronto corrija o sal, junte um maço de cebolinha e salsinha milimetricamente cortados e desligue a panela.

Aí vem o mais legal: em um prato fundo polvilhe um punhado de farinha de milho, um punhado de couve crua finamente picada, e a gema crua de um ovo, despeje sobre este preparado duas conchas generosas do caldo fervendo, que vai cozinhar a gema e a couve... Prontinho, tens uma generosa porção de Galinha de Parida!

Lá “no” Goiás, em lugar de uma gema, usamos os ovinhos que retiramos de dentro da galinha, são redondinhos, só gema e vêem em cachos. Uma belezura em minha opinião, e uma crueldade sem tamanho na opinião de muita gente... Mas o fato é que são deliciosos e quando eu era criança brigava por eles... Como é um ingrediente muito difícil de encontrar por estas bandas de cá, ninguém precisa se avexar se achar cruel comer os danadinhos...

Fala a verdade, dá até vontade de parir pra ser mimada com uma comidinha dessas...

* No Maranhão também fazem uma galinha de parida que se parece sob muitos aspectos com esta receita goiana.
** na falta de galinha caipira faça com galinha de granja mesmo, não é a mesma coisa, mas fica bom também.