19.6.06

Arroz com costelinhas de porco

Fiz esta receita ontem para acompanhar o jogo do Brasil na Copa! Ficou gostosa e portentosa como sempre!



Essa receitinha, adaptada à gastronomia goiano-mineira, passada de geração para geração, remonta à infância da humanidade, isso se a senhora e o senhor tomarem por base o texto bíblico... É a vingança definitiva de Lilith e Eva sobre o boçal do Adão.

Cansadas de pecados, costelas, maçãs, serpentes e de toda a baboseira da versão unilateral de Adão sobre o paraíso e decididas a colocar, de uma vez por todas, os pingos nos “is”, mesmo porque a tal versão oficial deve-se unicamente à boa relação de Adão com a imprensa, em um ritual quase catártico Lilith e Eva criaram, executaram e se lambuzaram com um “celestial” arroz com costelinhas de porco... de comer de joelhos!

Em uma panela de fundo grosso, de preferência de ferro, doure em pouquíssimo óleo – algo como uma colher de sobremesa – uma cebola de estatura mediana, cortada em cubinhos tão pequenos quanto sua habilidade permitir. Deixe reservada uma outra cebola cortada da mesma maneira para usar mais adiante.

Junte à cebola da panela um quilo de costelinhas de porco, não muito gordas e de preferência com muita carne, cortadas em pedaços de aproximadamente 10 cm de comprimento. No fogo médio, refogue a costelinha, misturando com paciência, em uma quase meditação, como quem entoa um mantra... Conforme a carne for grudando na panela pingue água e novamente misture, e pingue água e novamente misture, até que se obtenha a cor de bronze. Salgue, então, a gosto e junte a cebola reservada. Misture novamente para que a cebola nova roube, da costelinha, o bronzeado.

À parte, lave bem o arroz até sair toda a goma... Quanto arroz? Essa é uma pergunta deveras complicada... Vale a dica vinda de um restaurante de Paraty, um dos paraísos terrestres... Dois punhados cheios de arroz por pessoa e mais dois punhados cheios de arroz para a panela... Para a receita em questão Lilith e Eva aconselham aproximadamente 12 punhados, o que vai render cinco porções.

Mas a prova final fica mesmo por conta do olho bom do senhor ou da senhora, o tanto certo de arroz para essa receita é aquele que fica proporcionalmente adequado, só de olhar, à quantidade de costelinhas, nem menos nem mais. Quando cozido, o arroz deve envolver a costelinha que ficará imersa nele, sacou?!

Volte ao pas de deux da costelinha com a cebola e junte o arroz, também ansioso por dourar-se... Voilà: temos um perfeito ménage à trois! Para literalmente apimentar ainda mais a história, junte três pimentas dedo-de-moça, frescas e inteiras, e uma pimenta bode, em conserva, sem amassar. Misture mais um bocadim e junte água suficiente para cobrir a mistura. Prove o sal, misture mais um pouco e deixe ferver em fogo alto.

Quando a água estiver quase seca e aparecendo os furinhos formados pelo calor no arroz, tampe a panela e abaixe o fogo ao mínimo. Se tiver uma chapa de ferro ou alumínio coloque sob a panela. Passados uns minutos experimente para ver se a água secou totalmente e se o arroz já está cozido. Polvilhe com salsinha, desligue o fogo e deixe descansar mais uns cinco minutos. Pratique, então, aquele delicioso pecado capital...

Mais uma dica: na minha terra, comemos esse prato acompanhado por uma saladinha de tomate cortado em rodelas finas, cebola, cheiro verde e pimenta, temperada com limão, sal e azeite. Para completar e deixar a refeição ainda mais portentosa: depois de pronto, antes de servir, cubra o arroz com uma camada de bananas-da-terra fritas em rodelas... Ai, ai, ai...

Lilith e Eva colocariam na salada umas fatias de maçã...

Um comentário:

Anônimo disse...

Putz grila, fiquei com água na boca...será que escrevo ainda bem que não teve foto??? Assim eu posso deixar a imaginação mais solta e apreciar a arte da boa escrita, quero dizer da boa mesa ou ambas.